O TÍTULO
Vejamos como Pessoa “brincou” com a palavra MENSAGEM, descobrindo/encobrindo outros sentidos!
A erudição:
MENS/AG(ITAT MOL)EM. “Mens Agitat Molem” é uma citação de Virgílio, na Eneida, e significa que a mente move a matéria. O objetivo da Mensagem seria mover as gentes pela poesia.
A alquimia:
De “Mensagem” Pessoa retém ainda outro significado, segmentando a palavra e reorganizando as letras para formar a expressão ENS GEMMA, ou seja, ente em gema, ou ovo. É Portugal em essência, em gema. É um significado também potencialmente mágico pois, para os alquimistas, o ovo filosófico é germe de vida espiritual, da qual deverá eclodir o ouro da sabedoria. No ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir.
A nação:
Finalmente, Pessoa pega em Mensagem, e segmenta-a, resultando o anagrama MEA GENS ou GENS MEA: isto é, minha gente ou gente minha, minha família. É a raça de heróis com que Pessoa se identifica e que nomeia ao longo do poema Mensagem.
OS NÚMEROS
8
Portugal e Mensagem têm ambas 8 letras.
O oito é um número que representa a harmonia, mas está também associado aos Templários, mais precisamente à cruz templária, que tem 8 pontas. É essa mesma cruz que irá nas caravelas, já como cruz da Ordem de Cristo (esta ordem é “descendente” natural da dos Templários depois da extinção destes por ordem Papal).
Assim, Pessoa diz-nos também que a “Mensagem” é “Portugal” e que “Portugal” é a realização da missão da Ordem de Cristo e, consequentemente por descendência, da Ordem do Templo.
Curiosidade: O número 8, segundo a perspetiva bíblica, sugere o cumprir de um acontecimento, de uma ação, porém dá ênfase a um novo começo. O oitavo dia é simplesmente o primeiro dia de uma nova semana. Por isso, o número 8 trata do que é novo em contraste com o que é velho ou antigo. Por causa desse significado, a circuncisão dos recém-nascidos havia de acontecer no oitavo dia (Lv 12:3).
3
O três é um número que exprime a ordem intelectual e espiritual (o cosmos no homem). O 3 é a soma do 1 (céu) e do 2 (a Terra). Trata-se da manifestação da divindade, é a manifestação da perfeição, da totalidade. Está presente na terceira parte da obra, que se subdivide em três partes. Representa também o ciclo da vida, as três fases da existência: nascimento, crescimento e morte.
MENSAGEM, composta por três sílabas (assim como Portugal), liga-se também assim ao ciclo da vida: “Brasão” corresponde ao nascimento da nação; “Mar Português“, ao crescimento e apogeu do Império que se cumpriu; e “O Encoberto”, à morte, à qual se seguirá o renascimento, o ressurgir de um novo ciclo.
5
É símbolo de ordem, equilíbrio e harmonia. Está presente em “Brasão“, na subparte intitulada “As Quinas”. Pessoa escolheu cinco mártires da nação (pois 5 são as chagas de Cristo), representantes da dinastia de Avis, para corresponderem às cinco quinas (D. Duarte, D. Pedro, D. Fernando, D. João e D. Sebastião).
Também a parte inicial da obra, “Brasão”, está dividida em 5 subpartes, tantas quantas as partes do nosso símbolo heráldico – Campos, Castelos, Quinas, Coroa e Grifo.
O 5 está também associado ao Quinto Império, preconizado por padre António Vieira.
Curiosidade: Se somarmos 5 e 3 (números que integram a estrutura formal da obra), obtemos 8 - o número de letras que compõe o seu título! E, se somarmos 4 e 4 (os algarismos que perfazem 44, o número total de poemas da Mensagem), obtemos novamente 8!
7
O sete é o número da perfeição dinâmica. É o número de um ciclo completo. O 7 articula-se com o 4. Note-se que cada período lunar tem 7 dias e existem 4 fases que fecham o ciclo. Perpassa a ideia de algo que se completa, de um ciclo que se fecha. Os 7 protagonistas de “Os Castelos” vêm de 4 cantos do mundo: Grécia (Ulisses), Ibéria (Viriato), França (Conde D. Henrique) e Inglaterra (D. Filipa de Lencastre).
Sete foram os Castelos que D. Afonso III conquistou aos mouros; por isso também sete são os poemas de “Os Castelos”.
O 7 corresponde aos 7 dias da criação, assim como as 7 figuras evocadas na subparte acima referida são também as fundadoras da nacionalidade portuguesa: Ulisses fundou Lisboa; Viriato, uma nação; Conde D. Henrique, um Condado; D. Dinis, uma cultura; D. João, uma dinastia; D. Tareja e D. Filipa fundaram duas dinastias. Pessoa manteve na sua obra a ideia do número sete como número da criação.
O 7 é um símbolo de totalidade, de união do feminino (4) com o masculino (3). Consciente dessa tradição, Pessoa divide o poema 7 (presente em “Os Castelos”) em dois poemas – D. João, o primeiro, e D. Filipa de Lencastre, ou seja, o masculino e o feminino, o yin e o yang, Adão e Eva, o Sol e a Lua.
12
O doze assume relevância na segunda parte da Mensagem denominada “Mar Português”: 12 são os poemas que a integram, assim como 12 são os discípulos de Cristo, 12 são os Cavaleiros da Távola Redonda, 12 são os meses do ano e 12 os signos do zodíaco.
O número 12 é o número da ação e, nesta parte da obra, Portugal está empenhado profundamente no seu crescimento, na criação de um império (na posse dos mares).
Mas 12 marca também o final de um ciclo, ao qual sucede a morte, ao qual se seguem as trevas – O ENCOBERTO.
Boas leituras!
IA
As imagens foram colhidas em Google Imagens. O texto nasceu da consulta do manual escolar e daqui:
http://www.umfernandopessoa.com/uploads/1/6/1/3/16136746/as-mensagens-da-mensagem-2010.pdf
Esta página está preciosa (como todas, alás). Mostra como as grandes obras – ainda que pouco extensas, como é o caso desta obra pessoana -, resultam de uma longa reflexão e de muito trabalho.
Um beijinho para todos
DG
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Obrigada, Dolores!
Esperemos que o artigo cumpra a sua missão: revelar a “arquitetura” da obra e algumas temáticas (des)ocultadas nos números e, enfim, promover o gosto pela leitura não só dos poemas presentes no manual mas também dos outros que vivem na “Mensagem”!
E que seja também um “empurrãozinho” para as apresentações orais destes meninos!
A ver vamos…
beijinho,
IA
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